quarta-feira, outubro 31, 2007

Eu desafio todos os DEPUTADOS.

Hoje dia 31 de outubro de 2007 é comemorada a data de nascimento de Carlos Drummond de Andrade.
Pensando também que muitos brasileiros comemoram o dia das bruxas, resolvi fazer um desafio público na ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO DE JANEIRO – ALERJ.
Depois de muitas insinuações de que, como um dos líderes dos movimentos contra a violência e a favor de uma política pública de inclusão e de respeito ao cidadão brasileiro, usava drogas. Fiz exames toxicológicos completos para comprovar o meu comprometimento coerente com minhas atitudes.


Não seria preciso provar nada disso, pois a discussão é muito mais abrangente e não teríamos quase ninguém para debater sobre o assunto se discriminássemos Filósofos, Cientistas sociais, artistas, intelectuais em geral, jornalistas se a condição fosse a de não ser um usuário de drogas.

Acontece que a classe política se coloca sempre de forma arrogante tentando imputar através de uma legislação equivocada ( na minha opinião) a culpa da violência exclusivamente aqueles que usam substancias ilegais.
A covardia generalizada dos que fazem uso e não expõem suas faces para que possamos quebrar o tabu em relação a estes temas alimenta e fortalece ainda mais tal posicionamento.
O filme “Tropa de elite” que aborda diversos aspectos sobre a violência no Rio de janeiro deu ainda mais munição para que autoridades e seres humanos congelados em opiniões totalmente retrogradas interpretassem os diálogos do Capitão Nascimento como verdades absolutas.
A importância deste filme é exatamente essa, debater e buscar soluções para determinadas atitudes e posturas que prejudicam em muito o diálogo entre a sociedade.

Pensando nisso, HOJE, estarei DESAFIANDO PUBLICAMENTE nossas autoridades políticas que estão empenhadas em encontrar soluções para o fim da violência ( pelo menos diante das câmeras e jornais) a fazerem o mesmo.

A sociedade quer saber : Quem está disposto a encarar um exame TOXICOLÓGICO COMPLETO e mostrar ao cidadão carioca que de fato se faz coerente com o que está defendendo. Se as causas da violência giram em torno somente daqueles que supostamente compram drogas e alimentam o tráfico, quantos de vocês estão LIMPOS O SUFICIENTE para sustentar esta AFIRMAÇÃO.

Estou com meu exame em mãos e me coloquei a disposição publicamente para mostrar que realmente tenho o interesse em debater e ajudar a modificar o QUADRO.

E NOSSOS QUERIDOS DEPUTADOS?

QUEM ACEITA O DESAFIO?

E agora José?

ALERJ
15 HORAS.
DIA 31 de outubro de 2007.
QUER PARTICIPAR TAMBÉM ?
Leve um rolo de papel higiênico.


Tico Sta Cruz

terça-feira, outubro 30, 2007

Capítulo 4

Rogério me telefonou. Combinamos de nos encontrar para conversar e relembrar os velhos tempos. Que velhos tempos? Bom, de qualquer forma fui. Ele disse que estaria numa Chopperia perguntou se me importava de levar duas amigas. Óbvio que não, seria até melhor. No caminho fiquei me perguntando se as pessoas já reconheceriam Rogério. Embora seu personagem estivesse começando a participar da trama, creio que o público já associasse sua imagem a do galã de TV. Rogério nunca foi o cara mais popular da escola, as meninas nem davam tanta atenção assim para ele. Não sabia jogar bola, detestava as aulas de Ed. Física. Não era um bom aluno em outras matérias. Que me lembre eu era um dos poucos que dava alguma atenção para ele. Conversávamos sobre música e meninas. Rogério aprendeu a tocar violão depois, mas tinha um péssimo gosto musical. Chegando ao local combinado demorei um pouco a encontrá-lo. Estava numa mesa um pouco distante, concluí que não queria se expor demais, talvez algum fotógrafo pudesse incomodá-lo. Suas amigas eram bem bonitas. Vejam só os primeiros frutos da fama. Dizem que mulher sobra para as celebridades, que é tanta, tanta, que alguns enjoam e acabam virando de lado. Gargalhei sozinho. Às vezes me sinto tão sarcástico. Bobagem. Quando me aproximei da mesa Rogério levantou-se e disse em voz alta, olha se não é meu amigo Anselmo. Engoli seco, mas é claro que isso iria acontecer. Anselmo, esta aqui é Carla e esta é Melissa. Após as apresentações formais, sentamos e pedimos bebidas. Como estão as coisas? Tudo bem e você hein, quem diria, grande garoto (precisava ser simpático). Pois é, depois de tanto tempo tentando, ralando nesses palcos de nossa cidade, sem ninguém para me prestigiar acabei passando num teste e pegando esse papel. Que sorte a sua. Sorte não, foi muito trabalho. Lembra quando ainda estávamos na escola e comecei a fazer teatro? Os caras ficavam zombando de mim, dizendo que teatro era coisa de viado, essas babaquices de sempre. Pois bem, finalmente consegui uma vaga na novela e começaram a surgir vários amigos de vários lugares que nunca mais vi. Senti que essa indireta vinha direto para mim, mas tudo bem.
Ele prosseguiu, mas a vida é assim mesmo, também desconfiaria de mim se fosse outra pessoa. Quantas vezes não convidei meus amigos para minhas peças e os caras ficavam pedindo para entrar de graça. Eu praticamente tinha que dar os ingressos se quisesse ver algum deles por lá. Ele gargalhou e seguiu. Essa cidade é uma merda parceiro, todo mundo quer ser artista, todo mundo pensa que é artista, então só vão a algum lugar quando são convidados VIPS. Puta que pariu, nunca vi gente tão mesquinha. Se não fosse VIP não adiantava insistir. Permaneci concordando com ele. Foi quando uma menina se aproximou e lhe pediu um autógrafo. Ele sorriu, autografou, deu dois beijinhos na menina e continuou falando. Carla e Melissa sorriram orgulhosas do amigo. Senti uma pontada de inveja, mas uma inveja positiva, daquelas que nos faz querer trabalhar mais e mais para ter a mesma chance. Anselmo, e você, me conta o que anda fazendo além dessa propaganda de creme dental. Gargalhou acompanhado das meninas. Sabe o creme dental Brancol meninas, ele é o cara que tem o rosto estampado na embalagem. Imediatamente elas ficaram eufóricas. Sério? Você é que está na pasta de dente com aquela atriz que fora assassinada? Respondi que sim e abaixei a cabeça. Melissa insistiu, cara que coisa horrível fizeram com a menina. Tenho lido nos jornais todos os dias, ainda não descobriram quem matou não é? Não, não descobriram. E como você se sente em relação a tudo isso? Me sinto péssimo, Sheila era uma garota legal, não merecia o acontecido. Anselmo. Vamos mudar de assunto né, acredito que não seja um bom momento para falarmos nisso. Só mais uma pergunta, disse Carla, alguém tem alguma pista? Sinceramente não, nenhuma. O noivo dela era um cara estranho, metido em encrenca até o pescoço, imagino que deve ter sido vingança ou algum acordo não cumprido e como ela estava no carro, acabou indo junto. Melissa pediu licença e foi ao banheiro, Carla acompanhou. Rogério então me perguntara o que tinha achado das duas e respondi que eram bem gostosas. Ta a fim de colar junto para um motel? Mas é assim tão rápido? Nem nos conhecemos direito ainda, pouco conversamos. Porra Anselmo, não tem essa parada não, tu quer o quê, namorar com elas? Essas minas ai são pra comer e depois já foi, é assim que funciona. Fiquei um pouco constrangido mesmo sabendo que hoje em dias as coisas estão bem mais liberais. Até mesmo a Sheila que foi um desses casos rápidos exigiu um pouco mais de assunto. O lance é o seguinte, quando elas voltarem, vou pedir a conta e seguimos para o carro certo? Você está de carro ai? Porra esse filho da puta ta de sacanagem com a minha cara pensei. Não estou de carro, não tenho carro. Não tem problema então vamos todos juntos no meu, melhor ainda. Carla e Melissa voltaram e parecia já estar tudo armado. Pagamos à conta e partimos. Carla foi com Rogério na frente. Nem bem deu a partida e o cara já começou a passar a mão nas pernas dela. Ela sorria e olhava pelo retrovisor. Rogério parou no sinal e os dois se beijaram de forma intensa. Aquilo estava me deixando excitado. Carla num tom irônico perguntou se estava tudo bem atrás. Respondemos que sim. Os dois continuaram as carícias cada vez mais ousadas. Rogério perguntou, já vira um peitinho gostoso assim e abaixou a blusa de Carla. Realmente eram deliciosos, olhei para Melissa e parecia que nada estava acontecendo. Rogério começou a passar a mão nos bicos dos seios dela e a beijá-los com o carro andando. Meu pau já estava rasgando a calça e nada de Melissa. Carla partiu para o ataque e abriu o zíper dele. Olhou para trás com um olhar provocativo e começou a chupá-lo bem diante de nossos olhos. Comecei a passar a mão nos cabelos de Melissa, mas ela não esboçava nenhuma reação. Carla se deliciava com o pau de Rogério em sua boca e ele ria e fazia sinais para que tentasse o mesmo. Chegamos ao motel. Estacionamos e subimos. Quartos separados por favor, disse Carla, o show acabou, daqui pra frente sou eu e você disse olhando nos olhos de Rogério. Antes de entrar no elevador o filho da mãe ainda levantou a saia dela para que visse que a safada estava sem calcinha. Os dois riram e desapareceram. Restou a mim tentar convencer Melissa a se soltar um pouco mais. Ficamos no quarto ao lado ouvindo os gemidos dos dois trepando feito loucos. Carla deveria ser uma delícia na cama, eles faziam muitos barulhos. Melissa não estava à vontade. Quando tentei beijá-la ela recuou e disse que não queria. Como assim Melissa, estamos num motel, vamos aproveitar. Não sou este tipo de mulher. Que tipo de mulher? Que mal conhece um cara e sai transando com ele. Aquilo me pegou de surpresa afinal estávamos num quarto de motel, o que ela achou que iríamos fazer jogar videogame? Melissa me explicou que estava só acompanhando sua amiga que conhecera Rogério numa das gravações, ela fazia figuração e os dois combinaram de sair. Contou que Carla estava louca para conhecê-lo melhor e que seria uma ótima oportunidade. Insistiu para que eu fosse. Não queria ficar sozinha. Como boa amiga que sou aqui estou, ou melhor, aqui estamos. Certo. Já tava fudido mesmo. Que diferença iria fazer? Parecia que o mundo estava conspirando contra mim para me testar. Melissa comentou que o sonho de Carla era ser famosa e que ter conhecido um ator em ascensão parecia um ótimo caminho para alcançar seus objetivos. Aquilo me deu um embrulho no estômago. Será que tudo nesse meio é assim, por interesses, em busca de oportunidades? Quem eu era para falar de Carla, estava lá com o mesmo objetivo. Me senti mal. Me vi como um vampiro. Melissa parecia uma menina interessante, disse que era formada em comunicação e que ao contrário da amiga não tinha pretensão nenhuma de uma carreira artística. Esquecemos que estávamos num motel e passamos a noite inteira batendo papo. Com um pouco mais de paciência consegui o telefone, o msn e o Orkut dela. Quando o dia já estava amanhecendo ela adormeceu e resolvi ligar a televisão. O Jornal da manhã estava começando. A jornalista anunciara que o corpo encontrado carbonizado no carro não era do Detetive Machado como inicialmente a policia especulara. Tratava-se de um traficante procurado que fora identificado por uma pequena tatuagem que permanecia visível na altura do calcanhar. Provavelmente mais uma vítima da sangrenta guerra entre facções para dominar a venda de drogas na região.
Caralho, onde está este filho da puta? Provavelmente deve estar foragido. Mas por que o Detetive Machado cometeria uma barbaridade dessas? Será que isso não passou de uma armação feita pelo policial paraplégico para se vingar? Pensando bem, seria muita estupidez. É claro que as suspeitas cairiam sobre ambos. O jornal informara que a polícia continuava atrás de pistas e de que o pai de Agnaldo fora chamado para depor, assim como o policial. O desaparecimento de Machado estava dando ao caso ares de algo além da imaginação. Sai do meu transe quando Rogério e Carla bateram na porta. Estavam muito loucos e despertaram Melissa para que fossemos embora.
Cheguei em casa exausto. Bati uma punheta e fui dormir. Minha mãe já estava de pé e me recebeu como sempre cheia de sermão. Tudo que queria agora era descansar um pouco e esquecer que aquela noite havia acontecido.

Por volta do meio dia acordei suando. Tive um pesadelo horrível.

(...)

domingo, outubro 28, 2007

Capítulo 3 e capítulo 3,8

( Segue a saga, favor ler os capítulos anteriores)

Qual não foi minha surpresa quando começou a novelinha da tarde e vi um amigo meu que há tempos não encontrava como ator da nova temporada. Chamei minha mãe. Apontei, viu como é possível. Rogério está aqui mãe, vou ligar para ele, quem sabe não me indica? Como assim Anselmo, vai ligar pro garoto só porque esta vendo na televisão, você nunca mais procurou este menino. Anselmo não mãe, porra, quantas vezes terei que repetir pra senhora que meu nome é Flávio mãe, porra, Flávio Salinas. Melhor a senhora decorar meu nome artístico. Imagina se algum dia for convidado para aquele quadro do Faustão e a senhora disser meu nome errado. Que coisa é essa menino? Nome errado? Seu nome é Anselmo Cunha Pereira, escolhido por seu avô, errado é esse tal de Flávio Sareta. Sareta não mãe, Salinas. Que seja menino, Sareta, Salinas, tudo invenção dessa tua mente fértil. Escuta aqui mãe. Decidi que meu nome seria Flávio Salinas, nem todos os artistas usam seus nomes de batismo entendeu? É assim que funciona, quando seu nome não combina com a sua personalidade, com sua profissão, você escolhe um que represente o que queira passar. Meu avô não teve culpa de escolher um nome de velho. Anselmo é nome de velho, mãe. Porra, como é que tu podia me chamar de Anselmo quando era um bebe? Não consigo imaginar um bebezinho engatinhando de um lado para o outro e seus pais dizendo, que lindo, venha cá Anselminho, venha com a mamãe. Acho uma coisa besta essa de ter que mudar o nome, não representa nem o sobrenome da família. Que família mãe? Tirando a senhora e meu pai que sempre me apoiaram, quem mais dessa família acreditava em mim? Não vou ficar levando nome de gente que aponta o dedo para dizer que sou vagabundo, que não faço nada que preste, que nunca conseguirei seguir minha trilha. Quero ver quando for reconhecido pelo público, vai aparecer um monte de primo, de tio, de gente de tudo que é lado dizendo que é meu parente. É sempre assim. Enquanto não aparece na TV é vagabundo, quando fica famoso ai vira primo, irmão, sobrinho. Não fale uma barbaridade dessas seu mal agradecido. Quem pagou sua escola até o final foi teu tio. Caso o contrário estaria estudando nessas escolas públicas caindo aos pedaços. Um dia falta o professor o outro dia cai à porta, no outro tem tiroteio no pátio. Dê graças a Deus por teu tio ter pago sua escola, senão seria mais um desses ignorantes sem futuro. Se não fosse teus estudos em escola particular tu tava por ai envolvido com esses bandidinhos vendendo porcaria. Uma coisa você não pode reclamar, sempre teve tudo que precisou. Pode não ter tido luxo, mas nunca faltou comida nessa casa e sua escola sempre esteve em dia. Tu deveria era se orgulhar pois nos esforçamos muito, mesmo com tanta dificuldade para te dar um rumo na vida. Veja seus amigos, os que ainda estão vivos. Tudo vagabundeando por ai. Não vou ficar batendo boca com a senhora. Muito obrigado por tudo que fizeram por mim, vou retribuir assim que puder. E preste atenção menino, tu toma rumo nessa cara, nunca na minha vida imaginei que viria bater policia na porta da minha casa. Em que tu tá se metendo? Ta metido com droga? Olha Anselmo. Flávio mãe. Flávio é uma ova, escute uma coisa. Se estiver se metendo com maconha, com cocaína, eu mesmo te denuncio para a polícia entendeu? O que vou dizer para os vizinhos quando perguntarem o porquê da polícia ter vindo parar aqui? E a senhora tem que ficar dando explicação pra vizinho por quê? Eles pagam nossas contas? Eles cuidam de nossos problemas, então pra que precisamos dar satisfação pra essa cambada?
Minha mãe ficou falando um tempão no meu ouvido. Me alugando com aquele papo brabo de droga e todo esse blábláblá que é passado de pai pra filho e daí por diante. Toda casa é a mesma ladainha. Eu gosto de fumar um baseado às vezes, gosto de cheirar lança perfume, mas isso nunca me desviou do meu caminho porra. Sempre tive objetivo e quem tem objetivo não se desvia do caminho por coisa nenhuma. Liguei para o Rogério. Ele não reconheceu minha voz, mas depois que disse quem era se lembrou de mim. Dei os parabéns e disse que havia assistido o capítulo ( não assisti porra nenhuma, minha mãe não deixou). Falei que também estava trabalhando como ator e modelo, ele disse que tinha visto meu rosto no creme dental. Caralho, até que enfim alguém me viu. Disse que lembrou de mim e que achou engraçado pra caralho porque nunca na vida imaginou que conhecesse alguém que tivesse feito um trabalho desses. Fingi que não ouvi. Fui bem objetivo e perguntei se poderia me ajudar a levar um material lá na emissora. Expliquei sobre a figuração, sobre os cursos. Ele pediu para ligar outro dia para combinarmos.
Acontece que o caso de Sheila e Agnaldo tomou uma repercussão que não imaginava. O jornal do dia seguinte estampou a manchete contando o caso. Contou a história do pai de Agnaldo, do policial que fora baleado por ele e por fim dedicou um espaço generoso para os últimos dias de Sheila. Inclusive mencionando o fato de ter feito a propaganda do Brancol. A nossa foto acabou ficando em destaque. Você sabe como é a imprensa, pra vender jornal aproveita estes crimes que tem mulheres bonitas e fazem estardalhaço. É mais fácil a população se sensibilizar com uma loirinha bonitinha, do que com uma negra pobre, largada num matagal. Nesse país, negro quando aparece morto é só mais um que foi pro saco. Nem aparece nos jornais. Essa é que a verdade. Agora, estava lá meu rosto , junto com o de Sheila no meio das páginas policiais de todos os jornais do Rio. Caralho. Vai queimar meu filme essa merda. Quem vai chamar para trabalhar um cara que aparece ao lado de uma mulher assassinada nessas circunstâncias? Meu telefone não parou de tocar. Gente ligando de tudo que é lugar querendo saber o que tinha acontecido. Muitos me viram com Sheila durante o tempo que saímos. Todo mundo fazendo um monte de pergunta idiota. É foda. Quando o produto estava nas prateleiras ninguém me ligou, agora essa porra desse crime e todo mundo querendo saber da minha vida. Você deve estranhar a forma como me refiro a estes acontecimentos, mas para falar a verdade fiquei foi puto com tudo isso. Claro que o impacto de do acontecido com Sheila mexeu comigo. Mas nunca fui apaixonado por ela, saímos algumas vezes. Não tive um envolvimento emocional. Nem me chamaram para o enterro e mesmo que me chamassem não iria. Já fazia tempo que não à via. Não tinha o menor interesse por sua vida. O babaca do ex-noivo dela me deixou com o rosto marcado e depois que soube que ela voltara para ele concluí que cada um tem mesmo o que merece. É claro que não iria imaginar e nunca desejar uma tragédia dessas, mas não temos controle sobre a vida das pessoas não é mesmo? Nem sobre as nossas. O destino estava mudando meus planos sem mais nem menos. Precisaria ter sorte para que o caso fosse resolvido e deixassem o assunto de lado. Não queria que meu rosto continuasse sendo associado a esse crime.
A policia voltou a me procurar. Disseram que estava sendo investigado e que não poderia sair da cidade. Descobriram que o Detetive Machado estava desaparecido também. Sua família não sabia que ele fazia a segurança do Agnaldo, não tinha informações desde o último domingo quando deveria estar de plantão. Seus chefes também não tinham conhecimento sobre o emprego. Machado era um considerado um policial honesto, firme, competente e muito reservado. É comum que policiais façam bico para compensar os baixos salários. Dentro da corporação é preferível isso a corrupção. Ninguém sabia do bico prestado por Machado ao filho de um homem que supostamente trabalhava com contravenção. Seu desaparecimento criou um clima de estresse no distrito policial. Teria ele sido morto também?
Teria sido o autor do massacre? Onde estaria o detetive Machado? Esclarecer seu paradeiro seria fundamental para a investigação.
Enquanto isso não acontecia, meu rosto continuava sendo exposto pela imprensa que tornou o caso muito famoso. Era assunto dos bares, das escolas, dos noticiários. Sheila Cardoso foi reconhecida por um produtor de filmes pornográficos, usava a alcunha de Alice Veloso. Caralho, mais pólvora na fogueira. O produtor contou que já havia feitos alguns filmes com Sheila e não foi nenhuma surpresa isso repercutir ainda mais no inconsciente consciente coletivo da população. Os filmes de Sheila começaram a vender como água. E-mails circulavam pela internet, camelôs ganhando dinheiro expondo o produto em todo e qualquer lugar. A curiosidade mórbida das pessoas é abominável. Todo mundo queria ver Sheila ou Alice em ação. Fiquei estarrecido com a descoberta. Imagino o sofrimento da família dela. Até minha mãe veio com uma cópia do filme para esfregar na minha cara e me dizer que eu era um sem vergonha, que ela não tinha criado filho para se misturar com vagabunda. Futebol ficou em segundo plano, os escândalos políticos ficaram em segundo plano, só se falava no massacre de Sheila Cardoso e Agnaldo. Lembrei que transamos sem camisinha. Puta que o pariu. Como é que iria adivinhar que aquela menina linda, de olhar tão angelical seria atriz de filme pornô?
Não costumo transar sem camisinha, mas naquele dia estava tudo tão intenso, tão forte que não fiz questão de pegar o plástico na carteira. Como se já não faltasse mais merda nenhuma acontecer, agora teria que fazer exames para me certificar de que não pegara nada de Sheila.
Ninguém poderia saber disso.
Acordei pelo terceiro dia consecutivo com as notícias nas primeiras páginas. Todos os ingrediente precisos para um escândalo sensacionalista estavam presentes no caso. Pelo menos mudaram a foto. Creio que o pessoal da Brancol deva ter negociado com os jornais. Quem iria comprar pastas de dentes com a foto de uma atriz pornô assassinada? Para a empresa aquilo deveria estar dando o maior prejuízo.
Deveria, mas não estava. As embalagens começaram a desaparecer das prateleiras. Sheila virou uma espécie de celebridade póstuma. Todos queriam ter alguma coisa sua e a empresa percebendo o filão, mandou fabricar mais e mais produtos. Nenhuma pista do detetive Machado até que o calendário virou e um carro foi encontrado com um corpo carbonizado dentro.
(...)

A voz do escritor : O que acham de imprimir cada passagem para que depois possamos ter um livro dessa loucura? Quem pode fazer isso?

sexta-feira, outubro 26, 2007

Capítulo 2,6

( Continuação da novela. Será que sempre precisarei avisar que é necessário ler os capítulos anteriores? )


Acham que sou suspeito? Acham que seria capaz de fazer uma coisa dessas com um ser humano?

Os policiais fizeram as perguntas de praxe, igual a que estamos acostumados a ver nos seriados americanos. Por algumas horas me senti personagem de um filme policial. Sheila e Aguinaldo tinham desaparecido há três dias. Mais precisamente no domingo. Questionei a respeito do segurança do rapaz. Eles não tinham informações claras ou não quiseram me passar. Disse que no domingo estive no Maracanã vendo o jogo do meu time. Estava com dois amigos. Ofereci o telefone para que eles pudessem confirmar naquele mesmo instante e fui até o cesto de roupas sujas pegar minha blusa fedida para que eles pudessem cheirar. Não foi necessário. Perguntaram-me o que estive fazendo nos dias posteriores. Fiz figuração para um programa da Globo. O “Linha direta” conhece? Um deles se irritou achando que estivesse fazendo chacota, mas então expliquei que trabalhava como modelo e ator e que inclusive estava estampando a embalagem do creme dental Brancol, mas acho que nem precisei me esforçar muito para mostrá-los, pois a parede estava repleta de caixinhas que minha mãe colocara. Quer dizer, assim que viu a foto de Sheila morta, minha mãe tratou de retirar uma por uma diante dos próprios policiais. Nunca repararam? Não, responderam uníssono. Ninguém repara nessas coisas garoto. Foi o que ouvi em seguida. Só ficamos sabendo de sua existência porque estas com Sheila nesse trabalho e porque ouvimos de testemunhas que saiu com ela durante um período. Pensei, as pessoas só reparam nas outras quando uma tragédia acontece, puta que o pariu. Vocês sabem do acontecido com o pai de uma das meninas que ele pegava? Sabem que ele deu um tiro e deixou o coroa paraplégico, que o coroa era policia? Sabemos. Isso estampou manchetes de jornal. Estamos verificando também uma possível vingança. Sabem que o pai dele é envolvido com máfia? Sabemos também. Bom, então os senhores sabem de tudo. Dentre todas estas circunstâncias, creio que seja o que tenha menos motivação para praticar um ato dessa magnitude! Temos que verificar todas as possibilidades. Posso dar uma olhada no seu quarto? Vocês têm um mandato de busca em mãos? Um deles pegou o trinta e oito e apontou na minha direção. Serve esse? Que absurdo, que porra é essa pensei, que pooorra é essa, quero ver fazer isso em condomínio de bacana. Os filhos da puta entraram no meu quarto e saíram mexendo em tudo. Reviraram toda a minha coleção de brindes do Mac Donald’s. Jogaram para o alto todas as minhas revistas de mulher pelada. Colocaram as mãos sujas nas minhas roupas íntimas. Tiraram as gavetas e descobriram até um baseado que estava escondido no fundo falso do meu armário. Pensei, pronto, me fudi. Sua mãe sabe disso rapaz ? É claro que não, se está escondido ai é pra ninguém saber, vão me prender? Não, vou levar essa porra comigo seu viciadinho de merda. Tu sabia que tu é que financia essa porra desse tráfico caralho? Começou a me dar lição de moral igual ao Capitão Nascimento. Maldição, pensei. Puta merda, agora todo mundo fica repetindo esse diálogo dessa porra desse filme. Parecia que o cara tinha decorado cada palavra. Acho que todo policial agora deve ficar vendo esse filme umas 100 vezes só para decorar e depois fazer igual com os caras que pegam nas ruas. Não falei nada, fiquei só ouvindo. Pensei até que fosse tomar um saco plástico na cabeça, mas um deles recebeu um rádio e puxou o outro para fora do quarto. Logo depois me disseram que iriam continuar a investigação e que estava na mira deles. Grandes merdas, pensei, todo mundo fala isso nessa porra destas histórias policiais. Fui arrumar meu quarto e colocar minha coleção de brindes do Mac Donald’s no lugar. Coleção pela qual tenho imenso carinho. Coleciono desde os meus 3 anos de idade. Sempre que sai uma novidade do Mac Lanche Feliz eu compro e guardo. Ainda bem que tenho um quarto grande. Desde que meu pai morreu, minha mãe passou para o quarto que era do meu irmão que foi morar nos Estados Unidos e fiquei com a Suíte. Os babacas entraram aqui só para bagunçar a porra toda.
O que será que procuravam? Uma camisa suja de sangue? Uma serra elétrica? Porque pra fazer aquele estrago todo com o tal do Agnaldo só usando um machado ou uma serra. Fiquei imaginando quem poderia ter feito aquilo. Provavelmente algum desafeto do playboyzão e Sheila deve ter ido junto para não servir de testemunha. Isso é que dá andar com bandido. O cara era rico, tinha tudo do papai, estudou nas melhores escolas, fez faculdade e mesmo assim era um bosta, um escroto. Sempre desconfio de quem maltrata animal. Ele gostava de tirar onda de bandidão. Usava aqueles cordões de ouro iguais aos Rappers americanos, tomava bomba e malhava o dia todo. Gostava de andar com o som do carro alto pra caralho ouvindo funk, freqüentava os bailes e tudo, conhecia a rapaziada do movimento, cheirava cocaína, enfim um completo imbecil. Não sei o que era pior, ele ou aqueles pela sacos que viviam ao seu lado. Um bando de moleque rico bancando marginal. Chegavam em casa e se faziam de santinho pra mamãe e pro papai não tirar a mesada. Eu que nunca tive mordomia nenhuma, sempre sonhei em poder morar numa casa bacana, ter dinheiro para viajar para me divertir. Imagina se eu fosse rico, se tivesse grana, se iria ficar andando no meio de favela. Estes bostas fazem isso porque não vivem nossa realidade. Mas quando eu for famoso e quando puder desfrutar desse conforto todo, não vou passar nem perto desses lugares. Podem dizer que sou escroto e tudo mais, porém, só os que passam por isso sabem o quanto é difícil. Quando voltei pra sala já não havia mais nenhuma embalagem presa na parede. Minha mãe estava apavorada na cozinha. Tomei um banho e fiquei vendo Tv. Qual não foi minha surpresa quando...

quarta-feira, outubro 24, 2007

Capítulo 2

Continuação da novela. Para entender será preciso ler o capítulo 1 e o capítulo 1,5. Se não pode nesse momento, nem perca seu tempo lendo esse episódio.



Minha mãe vivia sorridente e orgulhosa até que tomou conhecimento de minhas aventuras com Sheila. Algum fofoqueiro(a) de plantão presenciou o fatídico dia em que estávamos passeando e Aguinaldo Francisco nos interceptou agressivamente. Vale a pena ressaltar que o mesmo já estava sendo procurado por tentativa de homicídio contra o policial que ficou paraplégico, grandes merdas, o escrotinho não poupou desaforos a mim e nem a sua ex-companheira. Preocupada com a reação do rapaz furioso, Sheila pediu para que lhes deixasse a sós. Resolvi encará-lo. Ele acertou um bofetão no meu rosto e cai desacordado. Quando retomei a consciência, vários curiosos estavam a minha volta e provavelmente algum desses foi quem contou o caso para minha mãe. Estava com fotos marcadas para a semana, contudo um hematoma gigantesco e com a cara inchada fiquei impossibilitado de trabalhar.
Tentei adiar em vão os trabalhos e acabei perdendo a oportunidade. Foda-se pensei, vou continuar minhas atividades, mas essa marca não vai ficar barata.
Não nos encontramos mais, fiquei sabendo que a burrona voltara a namorá-lo depois daquele dia e tomei conhecimento através dos jornais que o mesmo havia sido preso e posteriormente liberado pela justiça. Justiça de merda desse país. Provavelmente o pai dele nem precisou subornar nenhum juiz. Seu advogado conhecendo milhares de brechas do código penal, não levou muitas horas para devolvê-lo as ruas. Só fica na cadeia quem não tem dinheiro para pagar advogado bom. Essa é a real.
Passei a pensar em várias formas de me vingar daquele cretino, dentre uma das idéias, procurar o tal policial baleado e articular um plano para dar uma lição aquele filho da puta.
Acontece que depois de curado fui convidado a fazer um teste para um comercial de cerveja onde participariam alguns desses artistas famosos. Particularmente acreditei que seria uma ótima chance de conhecer mais pessoas importantes, de estar próximo. Quem não é visto na é lembrado. Minha mãe ficou um pouco contrariada com a idéia. Achava um absurdo, artistas com tamanha influência diante da juventude estimulando o consumo de bebidas alcoólicas. Ela passou a detestar um sambista depois que o mesmo estipulou um dia na semana com seu nome para que o povo bebesse ainda mais do que o de costume. Expliquei que assim como eu, eles também estavam lá pelo dinheiro e que ninguém recusaria uma quantia milionária para fazer esse tipo de campanha, afinal de contas o álcool é legal e no fim do comercial sempre tem aquela voz insistente dizendo: “Se beber não dirija”. Achei conservadora demais à postura de minha mãe, mas entendo o que quis dizer. Ainda assim não deixei de participar do teste e acabei sendo selecionado.
Fiz o comercial mas continuava a minha saga anônima.Tirando os caras do bairro que ficavam perguntando sobre as gostosas que apareciam, passava incógnito pelas ruas. Fazia aulas de teatro, mas nunca conseguia estrelar nenhuma peça. A verdade é que não quis dar a bunda para ninguém embora sequer tivessem me pedido. Ouvi de alguns colegas que fulano de tal só entrara porque comeu o produtor, que o outro estava protagonizando um infantil por ter dado o rabo para o diretor. Das duas uma, ou era intriga dos invejosos ou então ninguém queria me comer. Pensei em voltar a estudar. Fazer uma faculdade e trabalhar em algum emprego público destes burocráticos que muita gente frustrada aceita por não ter tido uma oportunidade melhor. Mas ouvir o lamento de alguns amigos com relação a seus chefes e a escravidão que era trabalhar em comércio, em banco, em repartição pública entre outros lugares. Isso me desestimulava a tentar qualquer coisa. Além do mais, faculdade pra quê? Se nesse país diploma não vale nada? Volta e meia pego táxi com engenheiro, com administrador, com gente que dedicou uma vida inteira aos estudos e esta ai largada, sem emprego, trabalhando com o que dá. Nasci para ser estrela porra, para aparecer nas revistas, para desfilar com roupas da moda, para beijar e namorar as mulheres mais bonitas. Algo me dizia que iria conseguir.
Foi pela manhã que minha mãe invadiu meu quarto assustada. A polícia estava na sala querendo conversar. Não gosto de acordar cedo, o que estes filhos da puta querem comigo?
Não devo nada pra ninguém. Tomei um banho, troquei de roupa e fui atendê-los. Não estavam com cara de bons amigos. Foram logo me perguntando se conhecia Sheila Cardoso. Respondi que sim. Mostraram-me uma foto dela jogada num matagal. Sheila havia sido assassinada. Quase vomitei quando vi. Estava com marcas pelo corpo inteiro e um tiro na nuca. Execução, disseram os homens. Minha mãe chorando bradava, eu sabia que você não deveria ter se metido com essa menina meu Deus. Veja que horror. O policial me questionou a respeito de nosso último encontro e lhe disse que já tinha alguns meses que não à via. Que nos conhecemos num teste de modelos, saímos algumas vezes e depois de ter sido esmurrado por seu namorado não nos encontramos mais. Eles mostraram então a foto do corpo de Aguinaldo alguns metros à frente. Na verdade não dava para dizer que era um corpo. A cabeça era dele, mas o resto estava em frangalhos. Disse que do jeito que o desgraçado arrumava confusões por ai, não havia como ter outro fim. Acham que sou suspeito? Acham que seria capaz de fazer uma coisa dessas com um ser humano?


Tico Sta Cruz

terça-feira, outubro 23, 2007

Pequeno intervalo.

A novela seguirá.
Mas diante da polêmica dos últimos confrontos na guerra civil do Rio de janeiro.
Segue minha opinião.
A novela volta com seu segundo capítulo na quinta feira.

É uma guerra, não é?

Quando assisto na televisão cenas como as que se passaram no último conflito entre traficantes e policiais que poderia ter acontecido em qualquer favela do Rio de janeiro tenho a impressão de que a sociedade, as autoridades, os políticos, as Ongs, a OAB, todo e qualquer cidadão que tenha um mínimo de sensibilidade e interesse por esses assuntos não consegue chegar a um consenso para buscar soluções práticas que tragam de volta o mínimo que condições para que possamos nos relacionar como pessoas civilizadas.
Acontece que estamos fazendo analises e ejaculando opiniões como se o contexto não precisasse ser levado em consideração. Creio que a maior dificuldade para uma cidade que é considerada “maravilhosa”, vendida no mundo inteiro como um dos pontos turísticos mais importantes, tendo inclusive uma das novas maravilhas do mundo de braços abertos abençoando nossa esquizofrenia, seja assumir de uma vez por todas que vivemos numa guerra civil. Um conflito que mata milhares de pessoas todos os dias como qualquer um desses que acompanhamos estarrecidos por manchetes de jornais no Iraque, no passado de Angola e em tantos outros lugares do mundo.
Uma atividade lucrativa que está constantemente mantendo o mercado ilegal, de armas, equipamentos, munições, drogas e tantos outros bens de consumo utilizados na manutenção desse caos.
Uma conclusão é comum: ninguém suporta mais viver sob esta tensão. Nem os moradores das comunidades carentes que estão expostos à ditadura das organizações criminosas e ao mesmo tempo da ação policial que não chega levando flores para a população.
É importante observarmos que o estado pouco se faz presente nessas áreas se não através da repressão. Onde estão os investimentos que há tantos anos são prometidos para a educação, saúde, habitação, resgate da dignidade de quem já não tem nenhuma assistência por parte do poder público? Não é necessário ser um especialista para entender que todo este mecanismo estabelecido desde sempre no país do carnaval é uma condição histórica de exclusão das camadas mais pobres de nossa sociedade. A lógica é tão evidente quanto afirmar que as políticas oferecidas para crianças, adolescentes e jovens da periferia, dos subúrbios, das favelas é praticamente um cabresto eficaz na hora de formar cidadãos que não conseguem entender o valor de seus votos numa falsa democracia onde ladrões de terno e gravata estão sugando boa parte das verbas que deveriam ser repassadas para uma melhoria nos salários de profissionais que atuam no cerne da questão.
Enquanto deputados, senadores, ganham salários totalmente incompatíveis com o trabalho que nos oferecem, professores, médicos, policiais, dentre outros importantes prestadores de serviço são relegados a segundo plano e no fim das contas brigamos entre nós enquanto lá do planalto central eles vão leiloando cargos públicos, brincando de administrar uma nação sempre colocando em primeiro lugar interesses partidários e picuinhas internas e deixando por último o que deveria ser a prioridade, a prática das políticas fundamentais para que pudéssemos reverter esse triste quadro.
Comprovadamente na história desse país, independente de quem tenha assumido o poder, a preocupação com a população nunca obteve a atenção que merece. Na prática, no cotidiano das grandes cidades o que encontramos é um sistema de saúde que deixa milhares de pessoas horas e horas em filas homéricas e alunos sem escolas. A aprovação automática, por exemplo, é só mais uma ferramenta para “emburrecer” ainda mais os que não tem acesso a um ensino privado. Em pouco tempo teremos ainda mais jovens analfabetos funcionais, disputando empregos sem capacidade alguma de competir de igual para igual. É nesse momento que o crime organizado entra e recruta a mão de obra prontinha para pegar nas armas e conseguir na marra o direito de ter acesso a tudo que está sendo oferecido nas propagandas. O tênis da moda, o celular de última geração, a grana para gastar com a menina que só gosta de sair com quem tem condições de oferecer algo a mais do que a miséria padrão a qual já estão submetidos. O tráfico de drogas é a chance de obter o reconhecimento que lhes foi negado, o protagonismo que qualquer jovem almeja.
Para quem tem educação, princípios e valores, algo que possa ser subtraído, talvez seja arriscado demais se entregar a essa vida. Mas para que nunca teve atenção, respeito e dignidade, esse pode ser o caminho ideal para chegar aonde deseja. É uma equação simples de ser entendida.
“Se ninguém se preocupa com a minha vida, por que devo me preocupar com vida deles?”
Palavras de um detento. Não parece fazer algum sentido?
Nos trabalhos que desenvolvo nas comunidades carentes, presídios, carceragens, escolas públicas e particulares, universidades existe algo enraizado a qual Sérgio Buarque de Holanda já mencionava em suas analises tempos atrás. A dificuldade que o brasileiro tem de lidar com as questões sociais ou políticas de modo racional, de considerar a esfera pública como algo impessoal, ou um palco de interesses coletivos e não individuais. A tal “cordialidade do brasileiro” que nos coloca numa posição interessante. Somos considerados passivos, bondosos, afáveis, sujeitos bovinamente a desmandos e abusos do poder e autoridade.
Não somos adeptos medidas preventivas. Nunca nos preocupamos com isso. Agora estamos atolados até o pescoço de ódio, de vingança, de ignorância. Tanto do lado da classe média e alta que aplaude quando vê indivíduos correndo morro abaixo enquanto um helicóptero faz milhares de disparos com a intenção de matar. Como por parte dos que optaram pelo crime e querem descontar num sinal de trânsito, num seqüestro relâmpago, numa invasão de domicílio a ira de quem não foi respeitado em seus direitos básicos.
Entendo o Governador Sérgio Cabral quando diz que não pode agir de maneira mais branda com organizações que possuem arsenais tão ou mais potentes do que nosso próprio exército. Entendo o Ministro da Defesa apoiar tais ações. Entendo a fúria do policial que está constantemente sendo alvo e colocando a cara para tomar tiro defendendo uma sociedade que parece estar satisfeita com o derramamento de sangue tamanha a omissão. Entendo também a OAB e os defensores dos direitos humanos que bradam vozes contra tais cenas, ainda mais quando aparecem no jornal nacional. Todo mundo quer e deve fazer o seu papel. Mas caros amigos leitores. É uma minoria que mora em comunidades carentes e se torna traficante de drogas.
Parto do princípio de que quando o individuo resolve pegar em armas seja para estar do lado da polícia ou do lado dos bandidos, este sabe dos riscos e das consequências que sua opção pode lhe trazer. Sendo assim, temos que focar este quadro de forma racional, levando em consideração a natureza humana, a emoção e todos os ingredientes que estão inseridos para que tais acontecimentos continuem se repetindo.
O bandido quando parte para a guerra pede para Deus protegê-lo, o mesmo Deus que é requisitado pelo agente policial e por todos que direta ou indiretamente acabam envolvidos no meio do confronto.
Não é tão simples quanto colocar o bem contra o mal maquiavelicamente.
Lá distante, dentro dos gabinetes, com ar condicionado, segurança particular, dentre outras regalias, nossos representantes despacham e discutem o presente da nação sem fazer um contato direto com a realidade de grande parte dos brasileiros.
Isso não é justo.
Guerra é guerra.
A partir do momento que assumirmos que estamos de fato vivendo sob uma guerra civil abandonaremos discussões polêmicas e deixaremos as opiniões apaixonadas de lado para buscarmos uma solução racional que dê um destino conclusivo para a situação.
Paremos de pisar em ovos para debater de forma clara as políticas necessárias para resolver de uma vez por todas esse inferno.
Tanto as preventivas como as repressivas.
Do jeito que estamos parece que queremos encaixar a peça de um quebra cabeça que visivelmente não corresponde com a que forma o encaixe correto.

Não é o BOPE, nem o CORE, nem nenhuma força de repressão que vai resolver este enigma. Somente a sociedade organizada e pleiteando o direito de participar ativamente das decisões políticas é que poderá articular uma mudança verdadeira.

Estamos uns contra os outros e eles estão lá de longe em Brasília discutindo suas porcentagens com empreiteiras e negociando cargos para aprovação de mais impostos.
Para onde estão nos levando?

Tico Sta Cruz

sexta-feira, outubro 19, 2007

Capítulo 1,5

( Caso esteja entrando aqui pela primeira vez ou não consiga entender nada do que está se passando, sugiro que leia o capítulo 1 dessa nova novela, pois os próximos parágrafos são a continuação da história )


Para minha mãe esse seria o início de uma vida de sucesso e fama e para Sheila a saída para um relacionamento conturbado de idas e vindas com seu ex-noivo.
(...)
O ex-noivo de Sheila era filho de um mafioso, dono desses brinquedos de parques de diversão itinerantes. Sabe estes parques que montam em feiras pelo interior dos estados? Pois então, essa porra é uma máfia fodida. São poucos os que comandam esse negócio e rende muita grana. Acho que pai dele era envolvido também com jogo do bicho, carnaval e outras atividades lucrativas. O cidadão tinha dinheiro que não acabava mais e só andava embecado com roupas caras e relógios de milhares de reais no pulso. Sheila dizia que ele sempre fora um cara tranqüilo, mas que de alguns meses para cá conheceu uma outra mulher e passou a tratá-la mal. Por sua vez ela começou a sair e a transar com um monte de idiotas que encontrava pelo caminho e um desses idiotas sou eu. Ela contava para mim barbaridades que seu ex-noivo cometia com animais. Ele tinha um gosto macabro e adorava arrastar gatos presos no pára-choque de sua caminhonete importada. Filho da puta. O cretino era torcedor do Flamengo e conhecia os jogadores com quem fazia churrascos e orgias segundo ela. Ficou sabendo disso depois que sem querer ouviu num salão de belezas quando uma manicure e uma cliente conversavam a respeito dos dotes físicos de tal artilheiro e com a orelha em pé reconheceu a descrição do local onde a tal cliente estivera se divertindo. Ela disse que essa cliente era uma safada sem vergonha bancada por um coroa rico e que fazia michê para jogadores de futebol. Disse que jogadores de futebol são uma cambada de filhos da puta que ganham dinheiro pra caralho correndo atrás de bola e gastam tudo com piranhas, carros, e outras futilidades. A Sheila sempre me pareceu um pouco exagerada, afinal sabemos que não é bem assim. Acontece que o tal ex-noivo acabou se metendo numa roubada. Pegou a filha de um policial e acabou arrumando uma encrenca danada. O Policial sabia quem era o pai dele. Certo dia flagrou a filha metendo dentro do carro na esquina da rua do condomínio onde morava. Colocou um revolver na fuça do seu ex-noivo e ameaçou estourar seus miolos. O estúpido então esperou o policial virar de costas levando a filha pelo braço e meteu uma bala que acertou a coluna vertebral do homem. Arrancou com o carro e deixou a menina chorando desesperada e o pai dela sangrando no chão. Sheila ficou sabendo que o policia acabou numa cadeira de rodas e jurou que se vingaria do cafajeste.

Acontece que Sheila amava esse cretino e mesmo sabendo de tudo isso, continuava se encontrando com ele. Eu temia que um dia eles fossem surpreendidos numa emboscada, mas o pai dele sabendo das merdas que o filho andava fazendo, contratou um segurança que passou a acompanhá-los 24 horas por dia. O segurança era um policial também e fazia bicos para ajudar no salário ridículo que ganhava na corporação. Sheila teve uma empatia direta com o Detetive Machado, homem sisudo, gostava de poesia e de matar gente. Só quando necessário ele afirmava e só esses vagabundos que não respeitam ninguém. De ex-noivo, Aguinaldo Francisco passou a ser seu “amigo”, na verdade gostava mesmo era de comer a Sheila e mandava pastar depois, ela tinha a convicção de que voltaria a tê-lo como homem e finalmente poderiam constituir família, por isso aceitava a condição e continuava nessas idas e vindas com o idiota.
Eu continuava esperando meu telefone tocar. Não deixei de fazer figurações na Globo e nem de tirar fotos para eventuais campanhas de lojas da região onde morava. Os donos do comércio local, vendo meu sucesso como garoto propaganda da pasta de dente, passaram a me convidar para ceder a imagem para esses cartazes chamando clientes para supermercado, bazares e tudo mais. Em pouco tempo, meu rosto estampava uma porrada de material de divulgação. Desde propaganda de papelaria até uma loja de roupas íntimas femininas onde aparecia de cuecas samba canção convidando as clientes a conhecer melhor o universo que encanta os homens de verdade. Minha mãe vivia sorridente e orgulhosa até que ....



Como seguirá a saga de Flávio Salinas e Sheila Cardoso ?

Tico Sta Cruz

quarta-feira, outubro 17, 2007

Capítulo Um

Quero dar meu depoimento.
Trabalhava como modelo e manequim. Cheguei a fazer algumas pontas em novelas da Globo. Quer dizer, pontas é o caralho, eu fazia era uma porra de uma figuração. Ficava horas e horas esperando a boa vontade do diretor. Foda era quando aqueles atores e atrizes não conseguiam fazer a cena direito. Tinha que repetir cinqüenta vezes aquele fingimento estúpido que protagonizava, dialogando um diálogo sem falas com uma menininha gostosa que na verdade eu só queria comer. Já comi várias figurantes. Comer figurante é como comer chiclete. Pula essa parte. Todo mundo ali quer ser famoso, tem o sonho de um dia estar no foco principal das câmeras. No circuito, nas revistas de fofoca. Sempre quis ser assunto. Por isso é que fico puto quando vejo esses famozinhos reclamando que a imprensa não deixa eles viverem em paz, que querem privacidade, que querem isso e aquilo. Batem em fotógrafos, fazem apelos comoventes na Tv pedindo que lhes deixem em paz. Já ouvi até de um cretino uma vez que ele iria reunir outros artistas para fazer um protesto contra a tal da imprensa “marrom”. Puta que o pariu. Cheio de problemas no país e o filho da puta querendo juntar artista pra fazer protesto contra revista de fofoca. Vai a merda. Vira padeiro então caralho. Quando estes putos não são ninguém, ficam correndo atrás de qualquer máquina fotográfica para aparecer, depois que começam a ficar conhecidos ai vem fazer cu doce? Não fode. Deixa isso pra lá.
Quando a novela ia pro ar minha mãe gravava e ficava repetindo, mostrando toda orgulhosa para os vizinhos.
Não me apresentei, desculpem. Meu nome é Anselmo Cunha Pereira.
Qual filho da puta pode ser ator com um nome desses?
Batizei-me Flávio Salinas. Você obviamente está se perguntando, “por que Flávio Salinas?” Não tem explicação, foi por que eu quis e esse motivo me parece suficientemente bom para não precisar explicar nada.
O fato é que nem sempre aparecia como achava que merecia aparecer e isso me revoltava muito, mas tudo bem.Me revoltava muito mesmo.
Um dia o meu telefone tocou. Número desconhecido. Toda vez que toca número desconhecido acho que é alguém querendo me contratar. Atendi com o coração ripando.
A voz do outro lado da linha confirmou meu nome. Flávio Salinas? Sim, sou eu. Você pode fazer um teste fotográfico amanhã às 08h30min da manhã? Lógico. Então fica combinado assim, apareça aqui no estúdio meia hora antes para que possamos maquiá-lo e prepará-lo para o teste ok? Sim, estarei ai.
Nem perguntei para o que seria, simplesmente no dia seguinte, acordei às 6 da manhã, peguei o ônibus e parti torcendo para que fosse coisa boa. Chegando lá, vi que muitos já esperavam na fila, até ai muito normal. A medida que os caras iam entrando outros saiam calados, alguns emburrados, deveriam estar lá desde a madrugada.
Chegou a minha vez. Entrei e fui atendido por uma bela senhorita chamada, Sheila Cardoso. Sheila me levou até o estúdio principal, me apresentou a todos e seguiu comigo até o maquiador. Explicou-me que se tratava de uma foto para embalagens de pasta de dente. Logo mostrei meus dentes brancos. Esse sempre foi meu orgulho, pensei, não tenho nenhuma carie, nunca precisei fazer nenhuma intervenção. O maquiador era uma dessas bichas velhas que aproveita da profissão para ficar se esfregando na gente. Penteou-me, passou pó no meu rosto, fez tudo o que foi preciso e sorridente me desejou boa sorte.
Entrei no estúdio e fui me posicionando. O Fotógrafo e seu assistente estavam para variar ajeitando a luz. É sempre a mesma merda, esses caras ficam de um lado para o outro tentando achar a melhor iluminação para no fim das contas colocar a porra da foto no computador e ajeitar tudo no fotoshop. Percebi que Sheila ficou para me assistir e isso logo me motivou ainda mais. Perguntei se era necessário tirar a camisa e algum filho da puta respondeu de longe que aquilo lá era pra mostrar os dentes e não o tórax. Dei um sorriso amarelo e continuei a espera do fotógrafo e de seu assistente. Depois de uns 10 minutos mexendo naquela porra eles resolveram que estava bom e começaram o trabalho. Eu só precisei rir e ficar como uma estátua rindo de nada para que eles pegassem o melhor ângulo. Fiquei rindo uns 15 minutos enquanto eles cochichavam do outro lado do estúdio. Sai de lá com a boca doendo, com o telefone da Sheila e com o contrato para ser o garoto propaganda da pasta de dentre Brancol.
Acho que eles gostaram tanto de mim que nem quiseram ver os outros. Sheila foi na fila dar o recado e o povo saiu todo indignado sem ter nem tido a chance. A vida é assim fazer o quê?
Voltei pra minha casa e contei para a minha mãe que saiu gritando pela janela. Puta merda.

As fotos oficiais estavam marcadas para a semana seguinte. O “Cliente” estava muito satisfeito com a minha figura e Sheila me ligou depois perguntando se eu não queria sair para comemorar. “Poderíamos tomar um Chopp” e é claro que aceitei, mesmo não gostando de porra de chopp nenhum. Sheila sabia que eu era um pé rapado, sem um puto no bolso e usuário da malha rodoviária. Ela por sua vez tinha um corsinha 2000 vermelho bolinha com os vidros pretos e uns adesivos escrotos pra caralho da Hello kitty. Foda-se, melhor que andar a pé. Entrei no seu carro e fomos para uma tal de oficina não seu do que. Tava tocando uma merda de uma banda de pagode com uns branquelos malditos todos de terninho e sapato combinando fazendo versões horripilantes das músicas do Legião Urbana e de outros cantores mortos. Mas valia a pena. O hálito de Sheila era uma delícia, ela estava radiante e linda. Me informou que seria minha parceira na campanha da Brancol e que aquilo nos renderia uma graninha boa. Bebemos a noite toda e depois saímos direto para um motel. Sheila comandou todo o processo. Na Av Brasil escolheu um lugar cheio de luzes de néon e entramos para fazer amor.
Foi o que ela disse no meu ouvido. “Tô louca pra fazer amor com você”. Meu pau que já tava duro desde o momento que entrei no carro indo para a porra da oficina não sei do que, quase explodiu quando ela disse as palavrinhas mágicas sussurrando. Mas não estou aqui para contar minhas intimidades.
Na semana seguinte estávamos fazendo as tais fotos e meses depois nossas faces estavam estampadas nas embalagens espalhadas por todos os supermercados, padarias, farmácias e comércios em geral. Comprei umas 10 caixas para distribuir para os amigos. Minha mãe gastou toda a pensão do meu pai para fazer uma porra de uma colagem pela parede da casa toda que ela disse ser sua maior obra de arte. Tadinha, ela estava muito orgulhosa e feliz. Era Brancol por todos os cantos, meu sorriso e o de Sheila para qualquer lado que olhava. Minha mãe disse umas 100 vezes," tá vendo meu filho, ainda bem que sempre lhe ensinei como cuidar dos dentes e foram eles que te fizeram uma celebridade". Que lindo.
Celebridade. Eu sabia que não tinha virado porra de celebridade nenhuma. Ninguém reconhece um filho da puta que está com a cara estampada num creme dental. Quem é que fica olhando para uma embalagem e reparando no rosto, nas expressões, na personalidade de alguém que está num produto que as pessoas usam rotineiramente? Você já viu alguém pedir autógrafo para um modelo de embalagem de qualquer merda? Claro que não. Você nem deve ter percebido que tem um cara na sua pasta de dente, sou eu porra. Pouco importa. Para minha mãe esse seria o início de uma vida de sucesso e fama e para Sheila ...
(...)

Daqui para frente, vou escrever uma pequena novela, então aceito sugestões de continuidade nos comentários. No entanto, não sejam prolixos, pretendo fazer uns dois capítulos por semana ok ?

Abs

Tico Sta Cruz.

sábado, outubro 13, 2007

Recepção

Meu computador esta sobre o frigobar do quarto ligado na tomada em que estava a televisão. Atrás dele tem dois copos vazios e uma pequena cesta com biscoitos, bebidas alcoólicas e um doce que não conheço. Um quadro de flores estampa a parede branca, a luz é branca, a janela é marrom e a cortina é bege. A cama não usei, ao seu lado duas mesas de cabeceira feitas em madeira. Acima, uma a direita e outra a esquerda, luzes de leitura que não funcionam. Uma penteadeira e um vaso com uma flor bem diante do espelho. Já me olhei algumas vezes nesse espelho. Um par de chinelos brancos com a bandeira do Brasil perto da porta sobre o tapete verde escuro. A cama esta coberta por uma colcha florida. Tem um sofá com um tecido estranho, não sei defini-lo.
Ar condicionado antigo.
O banheiro está com as torneiras trocadas.
A fria abre a quente e a quente abre a fria.
Tem um pano de chão ao lado de uma toalha de rosto que usei para limpar o gozo da falta do que fazer.

- Alou.
- Alou.
- Quem fala?
- Recepção, o que deseja?
- Desejo amar e ser amado.
- Sinto muito, não entendi senhor.
- Desejo amor, desejo viajar e conhecer o mundo e as pessoas e ver o sol de outros ângulos.
- Senhor, aqui é da recepção.
- Pois não?
- Pois não o que, o senhor quem ligou como posso ajudá-lo?
- Poderia me ajudar?
- Estou aqui para isso.
- Bom, me ajude a ver a vida com olhos diferentes, conte-me uma história onde os personagens não cobram um final feliz, simplesmente vivem a história sem saber qual será a próxima página.
- Como assim senhor? O senhor está bem?
- Sim, estou bem e a senhora?
- Estou trabalhando.
- Mas está satisfeita com seu trabalho?
- Senhor, aqui é da recepção do hotel, em que posso ajudá-lo?
-Me responde se está feliz com seu trabalho.
- Que diferença faz para o senhor? Não posso conversar senhor, estou no meio do meu expediente.
- Tem alguém por ai?
- Não senhor.
- Existem outras linhas para que os hóspedes possam ser atendidos?
- Sim, existem outras duas linhas.
- Elas estão tocando?
- Não senhor.
- Então...
- Pois não senhor, então o que?`
- Então me diga se és feliz?
- Senhor, não posso ficar batendo papo com o senhor, senhor.
- O que está fazendo ai nesse momento?- Estou lendo o jornal.
- E o que diz o jornal?
- O mesmo de sempre senhor.
- E como se sente lendo algo que é o de sempre?
- Estou só passando o tempo.
- Estou lhe ajudando a passar o tempo.
- Certo senhor, mas se o gerente chegar e me pegar falando no telefone não vai gostar.
- Por quê?
- Ora, senhor, porque estou trabalhando.
- Sim, está me atendendo, isso não faz parte do seu trabalho?
- Faz sim senhor.
- Pois qual o argumento seu gerente terá?
- Não estou entendendo onde quer chegar.
- Não estou tentando chegar a lugar nenhum.

( Silêncio na linha )

- Senhor...
- Pois não senhora.
- Preciso desligar o telefone.
- Tudo bem, pode desligar.
- O senhor precisa de algo?
- Preciso sim.
- Em que posso ajudá-lo?
- Pode me ajudar a limpar o céu e tirar estas nuvens de chuva de perto para que enxergue melhor as estrelas?
- O senhor está brincando comigo, não posso brincar.
- Por que não pode brincar? Porque já é uma pessoa adulta, por que o tempo passou e a vida agora é só a rotina diária, o cumprimento de tabela e quando algo inesperado te acontece dai a senhora perde a paciência e se sente desconfortável?
- Não senhor. Trabalho na recepção deste hotel, estou aqui para servir os hóspedes, fazer ligações, passar informações, programar alarmes, pedir um taxi caso seja necessário, levar uma toalha ou até mesmo algo para comer quando requisitado. Esse é meu serviço.

( silêncio na linha )

- Senhor, preciso desligar.
- Desligue.
- Desculpe se não posso ajudá-lo senhor.
- Não se desculpe ninguém pode me ajudar.
- Sinto muito senhor.
- Sente mesmo, seja sincera?
- Sinto muito mesmo senhor.
- E o que a senhora sente se nem me conhece?
- Sinto não poder ajudá-lo.
- Tudo bem, não estou procurando ajuda.
- Então tenha uma boa noite.
- O que é uma boa noite para senhora?
- Uma noite tranquila, onde posso ler um livro e descansar.
- Ótimo, para mim uma boa noite é uma noite onde posso conhecer outras pessoas, dançar, cantar, beber, me divertir.
- O senhor quer o endereço de uma danceteria?
Um minuto por favor.

( Silêncio na linha )

Desligo o telefone.

O telefone toca.

- Pois não.
- Senhor, aqui é da recepção, localizei uma danceteria, pode anotar o endereço.
- Para que?
- Ora o senhor não disse que queria dançar, beber e ver gente?
- Não, eu só perguntei a senhora o que era uma boa noite.
- Entendi, então nesse caso, desculpe o incômodo.
- A senhora não está me incomodando.
- Muito bem senhor, então tenha uma boa noite.
- E se não for possível?
- O que senhor?
- Se não for possível ter uma boa noite?
- O que quer que faça senhor?
- Me responda.
- Pergunte-me.
- Caso eu não tenha uma boa noite?
- Não posso fazer nada senhor, não é minha função.
- Tudo bem então.
- Boa noite senhor.
- Boa noite senhora.

Desliga o telefone.

Mil pensamentos passam pela cabeça.
Mas nada que mereça atenção.
Formalidades são falsas.

Conclusão.
Não existe conclusão.
Não nesse momento.

Ãh ?

Tico Sta Cruz

terça-feira, outubro 09, 2007

Há 40 anos.




Gostando ou não gostando, devemos respeitá-lo.


Quando nossos olhos se deparam determinadas notícias, devemos perguntar:


"A quem interessa isso?"





Numa guerra não existem bons e nem maus.
Guerra é Guerra.


Para equilibrar então :




Como são bonzinhos e generosos!
Pra quem não se lembra, a instituição acima foi quem patrocinou o GOLPE de 64 no Brasil.

É tanta bondade!!!!

Tico Sta CRuz

Aqui a DIREITA E A ESQUERDA andam de mãos dadas!!!!

domingo, outubro 07, 2007

Pornografia pura.

Talvez este título te induza a ler um pouco da intimidade desse alguém que pode ser você.
(NUNCA SE DEVE GENERALIZAR AS COISAS)

Os ricos nunca se preocuparam com os pobres.
Porque os ricos têm uma vida diferente e morriam de forma diferente.
Acontece que o jogo virou e agora os ricos estão morrendo como os pobres sempre foram mortos.
Isso os preocupa.
Qual rico quer ver a morte estampada num 38 bem diante de seus miolos?
Os ricos usam relógios de 50 mil reais conquistados com muito esforço e trabalho sério, principalmente os que ganham dinheiro estimulando o consumo de bens que os pobres jamais terão. Fazem trabalhos sociais para diminuir vossas culpas e para dizerem a si mesmos que diante dessa desigualdade absurda de valores cultuados ainda são capazes de sentir dor com a dor alheia.
Por que isso não pode ser verdade?
Quem não quer ter uma mansão e um barco estacionado em Angra dos reis?
- EU NÃO QUERO.
Guerra de cores, guerra de classes, guerra de ideologias.
Estou cansado de discutir com esquerdistas burgueses a respeito de uma realidade que eles só conhecem do baixo Gávea. Estou cansado de bater boca com a direita fascista que acha que todo favelado é bandido e tem que morrer.
O muro de Berlin caiu há tempos.
O governo com sua dificuldade em colocar de maneira prática seus objetivos vai como um trator passando por cima de todos os valores e escrúpulos que defendeu ao longo dos anos que não esteve no poder. Defendendo e justificando a corrupção. Estúpidos!!! Por outro lado temos na oposição um bando de sanguessugas que mamaram nas tetas da república por longos períodos, que compactuaram com atitudes IDÊNTICAS e deselegantes para quem se apropria da ética para fazer valer seus interesses partidários.
Nossos políticos com raras exceções são doentes, cleptomaníacos, sedentos por influência, dinheiro e poder. ARDILOSOS.
O que fazer com tanto dinheiro se não houver uma Mônica para comer no fim de semana?
Sem as mulheres no mundo o acumulo de capital não teria uma razão.
Sim, faço uma conexão perigosa entre sexo, dinheiro, poder e egoísmo. É a natureza humana.
Festas, orgias, carrões, viagens, ilhas, fazendas, banquetes, palavras jogadas aos quatro cantos para mostrar o quanto são importantes. Uma simbiose de parasitas e outros tipos que alimentam esse infame “sisteminha” mostrando suas caras na TV para fingir que estão preocupados com o cidadão brasileiro. Mais galhofas e falácias.
O Brasil é uma grande novela, um reduto de piratas, uma população indecente de valores estapafúrdios, que não respeita a liberdade. Condena o que pratica, numa atitude totalmente demente e patológica.
Os movimentos estão comprados, a política está com seu rabo sujo como um cachorro com diarréia que corre em círculos espalhando merda para todos os lados. Os artistas estão com medo de perder seus patrocínios, seus shows em prefeituras, seus rendimentos confortáveis, os intelectuais preferem discutir tudo sentados em suas poltronas de couro entre seus livros de capa dura.
O barco esta afundando e cada qual já assumiu seu papel na omissão coletiva. A crescente violência é a resposta a tanto desaforo e tamanha falta de sensibilidade dessa sociedade egocêntrica e doente que compra revistas tendenciosas e verdades de fim de semana, que tem como objetivo participar de Big Brother e tornar-se famoso e célebre sem precisar estudar ou desenvolver algum talento.
Que tipo de mundo é esse?
Que tipo de crianças estamos criando?
Que tipo de gente deseja o que estamos desejando?
Nossa dissimulação nos enforcará diante do maracanã lotado para ver Flamengo e Fluminense.
Foda-se?
Veremos !!!!!!

E assim caminhamos em direção a nossa morte CEGA.

Estes dias descobri que a palavra "BRASILEIRO" etimologicamente significa
TRAFICANTE DE PAU-BRASIL.

Faz sentido.

Tico Sta CRuz

Ps: Os comentários estão interessantes, vale a pena ler e debatê-los.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Baby

Baby
Não sei onde estou.
Nos meus sonhos estranhos
vou voando por cima de tudo.

Baby
Não vou pra onde vamos.
Estou pensando em voltar
e começar tudo de novo.

Como na primeira vez em que nos olhamos e o céu transformou-se nas asas de um inseto gigante que tinha traços de dragão e olhos pintados de fogo. Com suas ventas em chamas partia em nossa direção. Lembro-me de seus movimentos rasteiros, ensandecidos de medo.
Nós dele e ele e de nós.
O medo é uma criança atravessando a rua sem olhar para os lados enquanto corre atrás de uma bola que vai de encontro a um carro em alta velocidade.

Temos que evitar a colisão entre o metal e o coração dos inocentes.
Temos que impedir o confronto da dor com a anestesia.
Temos que arremessar almofadas de retalhos coloridos nesse universo preto e branco.

Não precisamos mais de suas TVs nem de suas novelas.
Não precisamos mais de suas músicas e nem das vozes chatas de seus locutores.
Não precisamos mais de seus programinhas para vender beijos.
Não queremos a sua liberdade que escraviza.
Não desejamos seu amor de capa de revista.

Baby
Meu corpo está nu.
Venha pra cima de mim.
Minha alma clama por ti?
(Não isso é clichê de mais)

Tico Sta Cruz

segunda-feira, outubro 01, 2007

Deus me livre!

O seu paraíso deve ser um inferno
cheio de caga regras e gente de batina e terno.
Com milhares de imposições escritas em caderno.
Faz o verão parecer inverno.
Pois tudo que é prazer pra ti é culpa.

Teu paraíso deve ser um tédio.
Cheio de panacas com seus dedos médios
apontando virtudes para fabricar remédios.
Tudo feito de concreto e no lugar de florestas, prédios.

Teu paraíso soa repugnante.
Como tiro ao alvo em elefante.
Com receitas prontas de alto falante.
E programinhas para anunciantes.

Teu paraíso não merece minha alma,
que é bem mais bela que essa tua calma.
Não faço questão de ter o teu perdão
que é bem mais sujo que meu pé no chão.
É bem mais sórdido que qualquer vingança.
No teu paraíso não tem mais criança, só velhos podres de espírito hipócrita.

Some já daqui com essa proposta infame.
Vende teu pecado pra agradar madame.
Alimenta os pobres com falsa esperança.
Coloca o mundo todo nessa tua dança, mas meu coração, tu não levaras.

Estou de bem, pois não existe uma só verdade.
Quem vende isso é sádico e covarde.

O que vem depois dessa vida ninguém voltou para nos contar.
Se for especulação ou se for sério, tu só saberás depois que cemitério
do teu cadáver se alimentar.

Então me deixe quieto.
Cada um que siga sua trilha.
Vai, pega teu iate e corre pra tua ilha.
Vai te encontrar com a tua quadrilha.

O teu paraíso não é meu lugar.
Deus que me livre.

Tico Sta Cruz