Eles adoram me fazer de otário...

Ontem, dia 19 de dezembro de 2007 o site do jornal O Globo publicou uma matéria onde o Senador Cristovam Buarque (Pt) apresenta uma proposta polêmica onde FILHOS DE POLÍTICOS ELEITOS SERÃO OBRIGADOS A ESTUDAR EM ESCOLA PÚBLICA.
Este é um tema recorrente nas apresentações do Voluntários da Pátria e ficamos felizes ao saber que o Professor e Senador mencionado o levou para apreciação no Congresso.
Obviamente, seus colegas sacaram milhares de argumentos contra.
Leia abaixo a notícia.
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/12/19/327693564.asp

Imediatamente em apoio a iniciativa, escrevi uma carta para o site do Jornal.
Segue na íntegra a seguir.

Seria estranho se nossos políticos aderissem em massa ao projeto de tornar obrigatória a utilização por seus filhos do péssimo serviço público de ensino que é oferecido a população. Mais hilário e patético são os argumentos contra a iniciativa do Senador Cristovam Buarque. Antes de tudo vale ressaltar que a democracia sempre é evocada nessas horas, e sua retórica menciona a liberdade de escolha que todos os indivíduos têm perante a constituição. Uma grande falácia, pois olhando de perto, só tem direito de escolha quem pode pagar por isso.
Aqui no Rio de janeiro ainda temos o agravante defendido por nosso Ciber-virtual-Prefeito-César Maia, que exige a aprovação automática de alunos que não sabem ler nem escrever.
O Senador Romeu Tuma saca sua pistola e defende a “democracia” com as brilhantes pérolas: “O fato de tirar o direito a educação Religiosa, já que a escola pública é laica”.
Vejamos caro Senador, se olharmos de um ângulo oposto. Como fazem então as famílias que não tem condições financeiras de colocar seus filhos numa escola religiosa?
“O fato de prejudicar a escola particular porque os filhos de cerca de 60 mil políticos eleitos, seriam obrigados a estudar em escola pública”.
Este argumento é vergonhoso. Se 60 mil crianças deixassem de usar os estabelecimentos de ensino particular com certeza nenhuma dessas instituições iria à falência. Sabemos que muitas escolas particulares mal têm vagas para atender a grande demanda de famílias que fogem dos colégios públicos, além do mais, se partirmos desses números concluiremos então que nenhum político hoje matricula seus rebentos na educação estadual, municipal e federal, o que sabemos também que é uma inverdade, caso seja verídico, a religiosidade explicaria tudo?
“O fato de impedir a família de exercer o direito da livre escolha”
Este é o que evoca o princípio básico da tal democracia, mas esquece ou ignora quem por motivos econômicos não pode escolher absolutamente nada e diante da mesma constituição onde todos os cidadãos teoricamente têm os mesmos direitos. Argumento que só proporciona a liberdade defendida aos que podem comprá-la.
O Senador Tuma parece estar em pânico quando lança sua próxima cartada.
“Como é que você vai impor a alguém a escola em que ela vai estudar?”
Pois é Senador e como é que esse alguém faz quando sua única opção que é oferecida pela União e não proporciona um ensino digno e de qualidade?
“A própria pessoa e a família é quem deve decidir”
Lógico, a própria pessoa e a família que tem condições financeiras para decidir.
“Além do mais, para obrigar, você tem que deixar as vagas abertas, impedindo que outras pessoas possam se matricular”.
Ora, caríssimo Senador Romeu Tuma, nosso país não foi capaz de construir instalações de primeiro mundo para abrigar um Pan-americano? Não ganhamos o direito de sediar uma Copa do mundo em 2014 onde precisaremos reformar e erguer estádios que estejam de acordo com as exigências da FIFA?
Então por que não construímos mais escolas e pagamos melhor os profissionais da rede pública, para acolher os alunos interessados em estudar?
Dizer que não há vagas o suficiente é atestar que o BRASIL não oferece escolas suficientes para todos os cidadãos que tem direitos iguais e se não existe, não concorda que devemos urgentemente pensar numa forma do ensino público absorver os filhos de todos os brasileiros?

O Professor da Usp Roberto da Silva que acusa o projeto de delírio, também se baseia no mesmo principio de igualdade que não existe na prática desse país. Acusa a iniciativa se ser anticonstitucional. Mas o voto para negros e mulheres também já fora anticonstitucional. Fora nas ruas que conseguimos o direito pelas eleições diretas de modo que algo inconstitucional pode tornar-se constitucional se interessar a maioria.

O projeto está totalmente de acordo com a realidade do nosso país e obrigando os políticos a usufruir do serviço que nos oferecem talvez tenham mais responsabilidades no repasse de verbas, na remuneração dos profissionais e com o conteúdo do que é oferecido para a população.
Paremos de fingir de maneira cínica que existe igualdade e possibilidade de escolha para todos. Isso é uma grande mentira, defendida por quem ou não conhece o ensino público ou tem medo de se expor ao mesmo.
O documentário “Pro dia nascer feliz” mostra bem como o Estado trata deste que é o item mais importante dos pilares para que algum dia a idéia de democracia seja possível.

“Se o analfabetismo fosse contagioso, como a poliomielite, as autoridades competentes assim como os setores mais favorecidos da sociedade já a teriam erradicado.”

No Brasil, não interessa jovens questionadores, adolescentes letrados e preparados para disputar o mercado de trabalho de igual para igual e sendo assim prevalece a opinião e o desejo daqueles que sempre tiveram o que estão questionando, o direito de escolha.

Para fechar um trecho da música Haiti de Caetano Veloso.

"(..)E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimuladoDiante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquerplano de educação que pareça fácilQue pareça fácil e rápidoE vá representar uma ameaça de democratizaçãoDo ensino do primeiro grauE se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capitalE o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no fetoE nenhum no marginal (...)"

Tico Sta CRuz